Melhor: a postura de Michael Myers
Pior: os diálogos; o trabalho de câmara; as músicas utilizadas; o tom do filme
Comentário
Neste Halloween, Rob Zombie tenta reinventar o filme original, dando ao espectador o conhecimento do passado da figura mítica de Michael Myers e uma nova visão de uma personagem que marcou a origem dos considerados 'slasher' movies.
Quando em 1978, John Carpenter com um orçamento minúsculo criou um filme de terror que modificaria a perspectiva de filmes de terror, Halloween estabeleceria-se assim como um filme de culto para qualquer cinéfilo. A sua visão em Halloween é deveras assustadora, o ambiente claustrofóbico comandado por uma câmara que coloca a visão de um assassino pelos nossos olhos torna-se em algo de original e inovador. Tudo o que outrora fora criado por um mestre que vê os seus filmes refeitos agora no nosso dia-a-dia, fora completamente destruído e deitado para o lixo. E o que mais me assusta é que esta nova geração, que provávelmente nunca viu o filme original, possa gostar deste filme de Rob Zombie e faça com que as indústrias cinematográficas optem por mais remakes de filmes ( Escape from New York de John Carpenter já é outra realidade! ).
Ainda me lembro da primeira vez que vi o filme original e como me marcou desde então. Tinha 6 ou 7 anos e estava sozinho em casa, Halloween foi dos momentos cinematográficos mais assustadores desde então e cada vez que revejo o filme não consigo deixar de ter um pequeno arrepio na espinha. Halloween de Carpenter transpira qualidade e esta adaptação de Rob Zombie nem sequer lhe chega aos calcanhares. O místico personagem desaparece e dá lugar a alguém que já vimos tantas vezes em filmes, alguém com um passado perturbado que se transforma num assassino brutal. Para quê explicar o seu passado? No original, bastou saber que matou a sua irmã para saber que Myers não batía bem da cabeça. O fantasmagórico Myers foi sempre uma imagem de marca dos filmes Halloween e ao revelar o seu passado ( de Zombie, dúvido que esta seja a visão do passado de Carpenter ), Rob Zombie estragou por completo o filme. Perde-se metade de um filme a tentar sentir um pouco de compaixão por esta personagem que tem um passado destruídor, para depois perdermos qualquer sentimento que tenhamos ganho com a experiência da primeira parte, para vermos uma personagem matar brutalmente sem qualquer remorso. Todo este 'carinho' que Zombie tenta imbutir no espectador é completamente escusado e ainda por cima prejudica a segunda parte do filme, que é feita em fast mode! Para quem vai ver o filme, pensando que vai ver algumas pérolas retiradas do original, está completamente enganado. Existem momentos-chave do original que aqui são utilizados como lixo ou até nem sequer são utilizados. O suspense do original desaparece por completo e este Halloween torna-se num filme banal que só tem como ponto forte a postura de Tyler Mane e a sua força. O facto é que hoje em dia os filmes de terror têm adoptado muito o gore e excesso de sangue ( no filme original poucas são as cenas onde se vê sangue! ), e cada vez mais os fãs do género têm reclamado com isso. Não existe aquele susto de morte, aqueles momentos em que estamos na expectativa- quando é que ele vai atacar? É raro ver um filme assim, últimamente... O Halloween original foi um mestre desse género! Mais uma vez vem-se provar que a qualidade dos filmes de terror se vem deteriorando.
As interpretações neste filme são demasiado básicas e pobres, nem Malcolm McDowell consegue trazer algo de novo ao filme. Brad Douriff interpretando o Xerife Brackett, aparece em duas ou três cenas e nem sequer dá para avaliar a sua performance. Esta nova Laurie é apenas uma cara bonita que nem chega aos calcanhares da original ( Jamie Lee Curtis ) cujo o papel a lançou na ribalta.
Adorei ouvir a música original da banda sonora no filme, mas as músicas colocadas por Rob Zombie no filme estragam por completo o tom do filme. Sinceramente nunca pensei ouvir Love hurts dos Nazareth em Halloween! Esqueçam este Halloween, por favor e vejam ( e revejam ) o original porque John Carpenter está num patamar que Zombie provávelmente nunca alcançará.
'I don't know what else I can do for you, Michael. You haven't said a word in fifteen years. That's a life time. That's twice as long as my first marriage. It's funny but in some strange way you've become my best friend.'